À beira da estreita rua de terra umedecida pela chuva torrencial que lhe assolara, deleitava-se quieto, muito quieto, solitário sapo, sem imaginar o suplício do futuro a espreitar lhe.
Seus grandes e vívidos olhos tinham luzes de
pirilampos e brilhavam ainda mais, ao entreolhar curiosos garotos a lhe rodear.
De repente: a tragédia! Os meninos lançaram
lhe pesadas pedras e a cada pedra lançada, um salto a mais do pobre sapo, em
sua angustiante tentativa de
desvencilhar-se da emboscada crucial.
Esforços vãos: não suportando a intensa
crueldade, pouco a pouco vai perdendo as forças e desfalece, enfim, numa poça
d’água, lançando ainda um último olhar estupefato aos pequenos vândalos,como a
entender e a perdoá-los.
Ó Pobre sapo! Sua voz não é ouvida, mas o
seu silêncio transmutará em dolente silvo de clamor, que ressoará por longo
tempo na consciência dos garotos, fazendo-os repensar em profusão, sobre a
tortura que lhe impuseram; e verão ainda, o
desabrochar de flores, no lugar do suplício de tão dolorosas pedras.
Antenor Rosalino